Lendo uma entrevista do professor Hermógenes, 86 anos, considerado o fundador da ioga no Brasil, ouvi uma palavra inventada por ele que me pareceu muito procedente: ele disse que o ser humano está sofrendo de normose, a doença de ser normal. Todo mundo quer se encaixar num padrão. Só que o padrão propagado não é exatamente fácil de alcançar. O sujeito “normal" é magro, alegre, belo, sociável, e bem-sucedido. Quem não se"normaliza" acaba adoecendo. A angústia de não ser o que os outrosesperam de nós gera bulimias, depressões, síndromes do pânico eoutras manifestações de não enquadramento. A pergunta a ser feita é: quem espera o que de nós? Quem são esses ditadores de comportamento a quemestamos outorgando tanto poder sobre nossas vidas?Eles não existem. Nenhum João, Zé ou Ana bate à sua porta exigindo que você seja assim ou assado. Quem nos exige é uma coletividade abstrata que ganha “presença" através de modelos de comportamento amplamente divulgados. Só que não existe lei que obrigue você a ser do mesmo jeito que todos, seja lá quem for todos. Melhor se preocupar em ser você mesmo. A normose não é brincadeira. Ela estimula a inveja, a auto-depreciação e a ânsia de querer o que não se precisa. Você precisa de quantos pares de sapato? Comparecer em quantas festas por mês? Pesar quantos quilos até o verão chegar?Não é necessário fazer curso de nada para aprender a se desapegar de exigências fictícias. Um pouco de auto-estima basta. Pense nas pessoas que você mais admira: não são as que seguem todas as regras bovinamente, e sim aquelas que desenvolveram personalidade própria e arcaram com os riscos de viver uma vida a seu modo. Criaram o seu "normal" e jogaram fora a fórmula, não patentearam, nãopassaram adiante. O normal de cada um tem que ser original. Não adiantaquerer tomar para si as ilusões e desejos dos outros.
É fraude.
E uma vida fraudulenta faz sofrer demais.
16 comentários:
moça, A normose pode ser definida como o conjunto de normas, conceitos, valores, esteriótipos, hábitos de pensar ou agir, que são aprovados por consenso ou pela maioria em uma deteminada sociedade e que provocam sofrimento, doença e morte.
Cris, quanto ao comentário acima..
É obvio que nem todo conjunto de normas, conceitos, valores, esteriótipos, hábitos de pensar ou agir, que são aprovados por consenso ou pela maioria provoca alguma patologia que leve a sofrimento, doença e morte. Este conjunto (o normal para determinada sociedade, comunidade ou indivíduo num espaço tempo bem definido) pode também trazer benefícios ou simplesmente terem consequências neutras.
Uma boa semana.
abç
Acredito que a "normalidade coletiva" influencia sim o meio ambiente em que se vive.
Qdo estamos em outras terras logo logo pegamos o sotaque, o jeito e os vícios. Sentimos até o cheiro diferente do lugar novo em que estamos. No interior do Brasil...Ô terrinha "Bããão" de boa. Lá o povo é simples e o "normal" não é o nosso normal, garanto a voce.
Prova disso foi o PAN. O "normal" das americanas dançarem impediram que elas entrassem na boate do PAN.
Então, quem dita a regra do "normal" geralmente é quem está por cima; na escola, em grupo, na cidade, sociedade ou mesmo, em todo um país.
um abraço.
minha menina,Penso que ser normal é poder, desde o amanhecer até ao entardecer, fazer o que se gosta sem se preocupar com o que ou quem irá dizer sobre suas atitudes, ser simples pois o principio da simplicidade é o de se aceitar como é e, não o de buscar estereótipos de beleza ou comportamento e principalmente, respeitar a quem realmente ama. Tenha uma ótima semana e boa sorte.
Oi,
sei o que é normose, e creio não o termo foi forjado na França por Jea Yves Leloup.
Da uma olhada nesse site: http://www.cuidardoser.com.br/normose-ou-anomalias-da-normalidade.htm
Explica o que você disse de uma forma + aprofundada.
Olá.
Seu blog está dez.
Chamo a atenção para este texto,sensacional.
Força sempre.
bjs
O que é ser normal(?)?, isso daria uma enquete e tanto, e um resultado assustador, melhor deixar quieto... da minha parte continuo usando interrogação quando preciso usar tal palavra, isso é normal(?)
bjs
Oi Tina, imerso nesta paranóia de faço ou não faço parte da normose global e generalizada, penso que um viés interessante para esta crise existencial está representada na expressão "Ser ou não ser, continuar fazendo é a questão". RSRS
bjkas
Permiti-me uma gostosa e duradoura risada após ler seu texto e os comentários...
Seu texto incomodou alguém (os anônimos), que se escondem atrás do anonimato, mas esta incomodação chega a ser prazerosa, pois o estado de reflexão é muito bom. “Ser ou não Ser, eis a questão”... abraços
Lendo o teu texto e pensando na frustação de quem sofre deste mal "NORMOSE", quanta frustação por não conseguir alcançar o objetivo!!!!!!!!!!!!!!!!!
Parabés AMIGA,pela postagemmm
bjs
A sociedade supervaloriza as pessoas normais. Educa as crianças para que se percam, se tornem irracionais, e assim se tornarem pessoas normais.
As pessoas normais mataram quase 100.000.000 de pessoas normais nos últimos cinquenta anos.isso causa sofrimento sr Márcio
Normose é assistir a escândalos políticos como corrupção e desvios de recursos de uma maneira normal. Embora reivindicações por mudanças sejam constantes, ficamos só no discurso. Ao invés de curar o mal pela raiz, somos tentados a simplesmente desviar do problema. Passiva, a sociedade aguarda providências das " autoridades" as quais, quem sabe, nunca chegarão.
Este texto fez alguns refletirem.
Parabéns
Cris! a Humanidade esteve diante das mais diversas pestes e doenças, mas creio que nenhuma foi tão sutil quanto a normose. Este foi o termo criado por Jean Yves Leloup para definir, não uma nova moléstia física, mas um tipo de comportamento moderno intensamente destrutivo e hostil.
Normose seria a doença que faz com que o indivíduo aceite comportamentos nocivos ou aja por sobre um plano ilusório de uma maneira normal.
O sujeito se acostuma tanto com determinada situação que nem pensa em questioná-la.
Ela passa a fazer parte do cotidiano, mesmo trazendo prejuízos significativos.
Acertou na escolha do assunto.
Saudades de vcs
abraços e bjs a todos
Renato Konzen
Normose é uma das doença mais
preocuoantes, é o fim da simplicidade, da autenticidade e do nós mesmos.
Cristina, vc acertou em cheio.
A-d-o-r-e-i o assunto.
Parabéns.
Bjssssssssssssssssssss
Todo mudo deveria ler esse seu post. No domingo, estava conversando com uma pessoa sobre profissões e brincos na orelha (meu filho mais novo tem um) quando ela disse. É melhor ele não usar brinco... hj ele quer ser produtor e tocar numa banda, mas depois ele vai querer uma profissão,” uma coisa normal”. Quer dizer que as pessoas que batalham pra nos dar lazer e cultura não é um profissional?
Um beijo
e parabéns pelo blog.
Prezado Savio Bender, obrigado por publicar um trecho do meu artigo "A Peste do Século". Lembro apenas a importância legal e ética de citar nome do autor e fonte:
Moacyr Castellani (http://www.metacoaching.com.br/artigo/peste-do-seculo)
Obrigado,
Moacyr
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