quinta-feira, 23 de fevereiro de 2012

DUAS HORAS DE DERROTA

Há sempre, entre as pessoas que nos cercam, aquelas que, de origem humilde, ao longo de alguns anos, por esforço pessoal ou por estarem no local certo na hora certa, alcançam postos elevados, por ninguém imaginado. A maioria segue seu ritmo de vida, com novos amigos sem esquecer os antigos, com novos hábitos sem esquecer os dantanho, com novas atribulações e atribuições sem olvidar o tempo antigo, isto é: com a mesma educação, correção no trato e tratamento cordial com o próximo. Outras, no entanto, quer por caráter defeituoso, quer por anomalia de criação, tão logo sobem de patamar social, viram sujeitos egoístas, cheios de si e prontos a instilar o veneno da soberba sobre aqueles que até a pouco eram seus iguais. Há um ditadinho popular muito consistente: “trata bem as pessoas que encontrares quando subires: as encontrarás quando por ventura desceres!”

Derrota, sabemos, tem duas interpretações: perda em uma luta ou direção de navegação de uma embarcação. Quando lemos notícias sobre acidentes de estrada, o importante é saber as causas do acidente: embriaguez, excesso de velocidade, estrada defeituosa, falta de acostamento, veículo em mau estado, sono do motorista, etc. Esta é a parte importante, porque, como na aviação, devemos fazer dos acidentes, ensinamentos e aproveitar as ocorrências, para tentar evitar algo semelhante. Não é a salvação, mas pode nos ajudar. Voltando. Nunca vimos alguém com derrota na derrota. Como o comandante do navio que imbicou o mesmo contra as rochas da ilha italiana. E depois fugiu para terra enquanto passageiros e tripulantes lutavam pela vida sem a voz forte do comando fugitivo. Poucas vezes se viu exemplo como este com tantas gravações incriminatórias sobre um chefe. Covarde é o termo que usam seus superiores e subalternos para analisar sua conduta. Passada a tempestade, com a imprensa noticiando a cada momento algo novo sobre a vida do ex-comandante, agora elevado a grande pária da Itália, os tripulantes dão conta do caráter do mesmo: irascível, vaidoso, despreocupado com o comando, mas gostando de ostentar poder e força, prepotente e agressivo com os inferiores. Duas horas da glória á desgraça. E todos que ele pisou ao subir, o estão esperando enquanto desce. Uma boa lição de vida para quem trata mal os mais humildes. Sempre é tempo de mudar, antes de bater nas rochas.



Ivar Hartmann