segunda-feira, 1 de outubro de 2007

Estação de Perdas


Há horas em nossa vida
que somos tomados por uma enorme sensação de inutilidade, de vazio...
Questionamos o porquê de nossa existênciae
nada parece fazer sentido।
Concentramos nossa atenção no lado mais cruel da vida, aquele que é implacável
e a todos afeta indistintamente:

As perdas do ser humano।
Ao nascer,
perdemos o aconchego,
a segurança
e a proteção do útero।

Estamos, a partir de então, por nossa conta।

Sozinhos।

Começamos a vida em perda e nela continuamos।
Paradoxalmente,
no momento em que perdemos algo,
outras possibilidades nos surgem।

Ao perdermos o aconchego do útero,
ganhamos os braços do mundo।
Ele nos acolhe:
nos encanta e nos assusta nos eleva e nos destrói...

E continuamos a perder... e seguimos a ganhar।

Perdemos primeiro a inocência da infância।
A confiança absoluta na mão que segura nossa mão,
a coragem de andar na bicicleta sem rodinhas
por que alguém ao nosso ladonos assegura que não nos deixará cair...

E ao perdê-la,
adquirimos a capacidade de questionar।
Por quê? Perguntamos a todos e de tudo...

Abrimos portas para um novo mundo
e fechamos janelas,
irremediavelmente deixadas para trás...

Estamos crescendo.
Nascer,
crescer,
adolescer,
amadurecer,
envelhecer,
morrer,
renascer (?)...

Vamos perdendo aos poucos
alguns direitos e conquistando outros।
Perdemos o direito de poder chorar bem alto,
aos gritos mesmo, quando algo nos é tomado contra a vontade।

Perdemos o direito de dizer absolutamente
tudo que nos passa pela cabeçasem medo de causar melindres।
Assim, se nossa tia às vezes nos parece gorda tememos dizer-lhe isso।

Receamos dar risadas escandalosamente
da bermuda ridícula do vizinho
ou puxar as pelanquinhas do braço da avó
com a maior naturalidade do mundo e ainda falar bem alto sobre o assunto।

Estamos crescidos e nos ensinam que não devemos ser tão sinceros.
E aprendemos...
E vamos adolescendo...
Ganhamos peso,
ganhamos, seios,
ganhamos pelos,
ganhamos altura...
Ganhamos o mundo।

Neste ponto, vivemos em grande conflito.
O mundo todo nos parece inadequado aos nossos sonhos...
ah! os sonhos!!!
Ganhamos muitos sonhos।
Sonhamos dormindo,
sonhamos acordados,
sonhamos o tempo todo.

Aí de repente, caímos na real!
Estamos amadurecendo...
Todos nos admiram।
Tornamo-nos equilibrados,
contidos, ponderados।
Perdemos a espontaneidade।
passamos a utilizar o raciocínio,
a razão acima de tudo।

Mas não é justamente essa a condição
que nos coloca acima (?) dos outros animais?

A racionalidade,
a capacidade de organizar nossas ações
de modo lógico e racionalmente planejado? (???)

E continuamos amadurecendo....
Ganhamos um carro novo,
um companheiro,
ganhamos um diploma।

E desgraçadamente
perdemos o direito de gargalhar,
de andar descalço
tomar banho de chuva,
lamber os dedos
e soltar pum sem querer...

Mas perdemos peso!!!
Já não pulamos mais no pescoço de quem amamos e tascamos - lhe aquele beijo estalado...
mas apertamos as mãos de todos,
ganhamos novos amigos,
ganhamos um bom salário,
ganhamos reconhecimento,
honrarias, títulos honorários e a chave da cidade...

E assim, vamos ganhando tempo....enquanto envelhecemos.
De repente percebemos que ganhamos algumas rugas,
algumas dores nas costas (ou nas pernas),
ganhamos celulite, estrias, ganhamos peso...
e perdemos cabelos।

Nos damos contaque perdemos também o brilho no olhar,
esquecemos os nossos sonhos,
deixamos de sorrir...
perdemos a esperança।

Estamos envelhecendo।
Não podemos deixar pra fazer algo quando estivermos morrendo...
Afinal, quem nos garante que haverá mesmo um renascer,
exceto aquele que se faz em vida,
pelo perdão a si próprio,
pelo compreender que as perdas fazem parte,
mas que apesar delas,
o sol continua brilhando e felizmente chove de vez em quando,
que a primavera sempre chega após o inverno,
que necessita do outono que o antecede...

Que a gente cresça e não envelheça simplesmente...
Que tenhamos dores nas costas e alguém que as massageie...
Que tenhamos rugas e boas lembranças...
Que tenhamos juízo, mas mantenhamos o bom humor e um pouco de ousadia...
Que sejamos racionais, mas lutemos por nossos sonhos...
E, principalmente, que não digamos apenas TE AMO,
mas ajamos de modo que aqueles a quem amamos,
sintam-se amados mais do que saibam-se amados।
Afinal, o que é o tempo?

(autor desconhecido)
Encontrei este poema, no meio de um caderno , não traz o autor, se alguém souber o nome do mesmo, comunique, para fazer a ratificação.

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